Entre lanches desaconselháveis, encontro Tais, uma guerreira

Estava aqui pensando: se precisamos ter cuidado como que comemos, por que nos oferecem suco artificial no lanche da hemodiálise? E pão com margarina ou com uma fatia de presunto?

Sei que alguns pacientes chegam à sessão já cansados com a viagem de mais de 100 km de distância e esse lanchinho no meio da sessão ajuda a combater a fome, mas não a necessidade de alimento com qualidade e específico para doentes renais.

No contrato com o governo é obrigatório oferecer esse lanche durante a terapia renal.

Perguntei ao médico residente sobre o nosso cardápio e ele disse que talvez fosse uma questão de verba, ou seja, é o que dá para comprar.

O fato é que nos sentiríamos mais cuidados se a comida fosse melhor. Tem gente que traz uma bolachinha para complementar. Já chegamos até a encomendar salgadinhos fora das datas comemorativas, como aniversários. Foi no dia que estava na poltrona da frente à minha uma nova paciente vinda do Mato Grosso. Ela estava em um tratamento cardíaco em Ribeirão e aproveitou os horários que vagavam na clínica para poder dialisar.

Tais tem 38 anos e se agarra a uma almofada de cachorrinho durante a terapia. Fiquei com vontade de ter uma assim também.
Ela contou que liderou um movimento de pacientes na clínica em que faz terapia renal na cidade onde mora e conseguiu mudar a comida oferecida, que era igual à daqui. Agora os pacientes de lá consomem suco natural e tipos variados de pão.

Tais está resolvendo o problema do coração para voltar para a fila do transplante renal. Com 14 anos ela começou a passar mal e inchava o rosto. Os médicos não sabiam o que podia estar causando tanto desconforto à adolescente. Ela diz que nunca mediram a pressão e nem pediram exames sobre a função renal.

Dois anos depois conseguiu o diagnóstico: problema nos rins a faziam inchar e ter pressão alta. Precisou ir para a diálise e começou pela peritoneal, que é feita em casa.

Toda a familia se movimentou para doar o rim, como irmãos e pais. E a decisão foi tomada – a mãe, com 70% de compatibilidade, foi a doadora. Com 19 anos ela fez o transplante e levou uma vida normal durante 12 anos. Foi o período que trabalhou como arquivista e também se casou.

Com o passar dos anos, o rim começou a apresentar rejeição. Fez tratamento conservador, que é a retirada de água e sal, suficiente para aguentar mais alguns anos até cair na diálise novamente, onde está há 5 anos. Ela parece uma pessoa corajosa, que não se deixa abalar pela saúde frágil. Começou cedo a luta pela vida e se tornou uma guerreira . Espero encontrá-la novamente.

 

MINHA OMELETE DE ESPINAFRE

Obs: depois de cozinhar o espinafre e desprezar a água, apertei bastante para eliminar ao máximo o líquido das folhas que contêm muito ferro. Deu uma bela omelete de espinafre com cream cheese.