Na última sessão esqueci minhas meias e o jeito foi improvisar. Os dedos das mãos e dos pés ficam durinhos de frio. A friorenta aqui precisa providenciar uma luva.
A enfermeira veio com as toquinhas de pano que elas usam, duas em cada pé, e isso ajudou bastante a me aquecer na ultima hora, que é a mais fria.
Considerei um gesto de carinho e atenção como o que recebo no final da hemodiálise.
Quando somos desligadas da máquina, a enfermeira dobra o lençol e o cobertor, guarda e nos acompanha até a balança levando nossa malinha.
Mas da última vez fiquei no vácuo. Uma enfermeira que vi pela primeira vez no meu box me “devolveu” e me deixou sentada esperando uns bons minutos. Quando percebi que ela me “abandonou”, chamei a outra enfermeira, com quem estou mais acostumada, e perguntei porque não fui ajudada. Aí fiquei sabendo que essa ajuda não é obrigação, mas apenas uma gentileza que fazem.
Fiquei indignada, porque saímos com curativo depois de 10 minutos apertando a fístula para não vazar o sangue. Então, como vamos fazer movimento mais brusco para dobrar nossas coisas?
Essa mesma enfermeira, que me ajuda muitas vezes, me levou até a porta da clínica. Sempre achei que essa atitude fizesse parte do pacote. Agora vou sair com a sensação de estar sempre devendo para as meninas mais fofas, que cuidam melhor da gente.
Quando se trata de gentileza, veio à tona a personagem de hoje dos meus relatos.
Lembram quando contei do pirulito que tinha deixado a minha tarde mais doce e menos tensa? Quem me deu foi a Vânia, do box ao lado, onde estive na segunda sessão de diálise.
Ela tem uma história de muito amor envolvido. Viveu com o rim do marido durante quase 15 anos, mas ele pifou depois de uma forte infecção urinária. Há 3 anos ela voltou para a hemodiálise e agora o filho único já manifestou vontade de doar também.
Vânia tem 52 anos e ainda trabalha como assistente social. Está na fila da capital para tentar um novo transplante no Hospital do Rim, em São Paulo. Me chama de “amiga” e está sempre sorridente.
Hoje ela estava animada com a possibilidade de entrar na fila de emergência, que dá a possibilidade do rim sair mais rápido.
Vânia tem os olhos arregalados e mantêm eles bem abertos para perceber que naquelas primeiras sessões eu estava assustada. Pediu para a enfermeira me dar um doce.
Doce Vânia!