O braço direito da Teresinha mostra o resultado de 15 anos de hemodiálise. A segunda fístula já está calejada e ficam calombos sobre a artéria por onde o sangue é filtrado.
Conheci a Teresinha antes de começar a minha terapia renal. Ela mora na mesma clínica de idosos onde vive minha mãe, apesar de ter apenas 56 anos de idade.
Ela ficou sozinha no mundo, tem apenas uma sobrinha que a ajuda a pagar a casa de repouso. Cuidou dos pais e da irmã, que já se foram deste mundo e, quando chegou a hora de ser cuidada, precisou de um lugar onde tivesse carinho e atenção para continuar a árdua batalha pela vida.
Antes dos 40 anos Teresinha descobriu uma doença um pouco rara, chamada Berger (pronuncia-se “berjê”), de origem imunológica, que a levou à insuficiência renal. É causada pelo mal funcionamento de anticorpos e isso faz com que germes fiquem depositados nos rins, causando sérias lesões. Desde então faz hemodiálise na mesma clínica que eu frequento.
Nesse meio tempo de terapia renal, já apareceram 3 doações, mas ela não aceitou nenhuma delas. A última foi na semana passada e ela descartou porque “não era um bom rim”.
Quem está na fila tem o direito de saber quem é o doador do rim compatível e os antecedentes dele, como se era alcoólatra ou fumante, se já teve doença contagiosa.
No caso dessa última oferta, ela não aceitou porque o rim tinha sorologia para sífilis. Se a pessoa recebe um rim assim e desenvolve a doença, ela tem que fazer tratamento.
Como Teresinha não está desesperada – confessou que tem medo de fazer transplante -, ela segue a vida na esperança de ainda aparecer um órgão o mais saudável possível.
Teresinha ė uma mulher magrinha e aparentemente frágil e faz parte de uma estatística nada animadora. Segundo a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos, a taxa não chega a 15 doadores efetivos para cada 1 milhão de habitantes.
Na Espanha, são quase 40 doadores para cada 1 milhão, a mais alta no mundo.
A recusa da família é o principal entrave: 43% das famílias não autorizam a doação.
Até dezembro de 2016, mais de 21 mil pessoas aguardavam um rim.
Em segundo lugar vem a procura por transplante de córnea.
Falta maior conscientização para a doação de órgãos no país?
Na minha opinião faltam mais campanhas e, principalmente, mais informações sobre a doença.
E você que leu a história de hoje, tem uma opinião sobre esse assunto?