Todo dia ela faz tudo sempre igual…
Acorda às 4 da madrugada e vai para o primeiro trabalho. Não toma nem café da manhã em casa para não atrasar.
Nessa época, as madrugadas são mais frias e foi preciso trocar a moto pelo carro para não chegar congelada ao serviço de hemodiálise.
Vai almoçar na casa da mãe e aproveita para dar um cochilo antes de ir para o segundo serviço.
Às 3 da tarde, de banho tomado, veste de novo a roupa e os sapatos brancos e vai para a segunda missão do dia, a outra clínica de hemodiálise.
Meus olhos atentos acompanham esse segundo período de trabalho de Gislaine, a enfermeira de 39 anos que é fixa no meu box de terapia renal.
Pega uma artéria daqui, outra ali, confere peso, fluxo sanguíneo, heparina, temperatura.
“É só uma picadinha, respira fundo, não vai doer” – diz ela toda vez, tentando me acalmar na hora de pulsionar a artéria para a filtragem do sangue.
Ao contrário de alguns funcionários mais carrancudos, está sempre de bom humor e pronta para trocar uma ideia nos minutos de folga.
Às vezes consegue ler o trecho de um livro na última hora de trabalho, quando está mais tranquila. A leitura é um dos seus passatempos preferidos. O último livro que “degustava” era “O Diário de Anne Frank”.
Normalmente é ela que pega a minha fístula e depois me devolve com um curativo. Me acompanha para pesar e me leva até a porta da clínica carregando minhas coisas.
Agradeço com um beijo de boa noite.
Só quando chega 9 horas da noite, Gi já dividiu a limpeza das máquinas com outro profissional do box e volta para casa com a sensação de missão cumprida. Tem ainda marido e um filho para cuidar.
Ela adora a profissão e só lamenta não ser melhor remunerada, o que leva muitos enfermeiros(as) a terem dois empregos.
Gi diz que gosta de trabalhar nessa área médica, embora muitos pacientes sejam carentes e depressivos. Mas aprende muito com eles e, se pudesse voltar atrás, teria a mesma profissão.
É na figura dela que hoje presto uma homenagem a todos os enfermeiros. Afinal, hoje é o dia deles.
Parabéns especialmente àqueles que entendem a alma humana.