Conforme vou conhecendo as histórias da hemodiálise, elas vão se repetindo.
A maioria dos pacientes da clínica onde estou, perdeu a função renal por causa da pressão alta ou do diabetes.
O que muda entre os pacientes é o jeito como cada um encara o problema.
Nelson, por exemplo, está de boa nessa vida e diz que não quer fazer transplante. Já se acostumou com o descanso forçado na poltrona de deitar, com as agulhas que cortam a pele e o lanchinho no meio dessas máquinas que fazem a função dos rins.
“Eu falo muito obrigado pro médico quando aparece um rim e isso já aconteceu 3 vezes”.
Nelson faz hemo há 3 anos, está na fila do transplante, mas isso não é prioridade na sua vida.
Ele diz que é uma pessoa de muita fé e não sai de casa sem as correntes com o crucifixo, a Nossa Senhora e o terço pendurados no pescoço. Segura no terço para falar que gosta de rezar enquanto fica preso na máquina.
E a reza não é só para ele não. “Oro para todo mundo que está na mesma situação que eu”.
Tentar levar a vida dentro da “normalidade” é o que todos buscam, mas o Nelson chamou minha atenção pela indiferença com a própria doença. Nada impede ele de continuar tomando uma cachacinha e também de pegar peso.
É mecânico de carro e trabalha em casa fazendo pequeno consertos.
Mostra os braços fortes e conta rindo que nunca perdeu a fístula. “Eu tô bem assim”.
Sorte dele! Ah! Ele tem diabetes e pressão alta.