O curativo na coxa de uma mulher me chamou a atenção outro dia no fim da hemodiálise. Lucélia fez adaptaçāo na roupa para facilitar quando está na terapia renal. A perna esquerda da bermuda tem um zíper na frente que ela abre e as enfermeiras a ligam à máquina por meio de um catéter.
Lucélia já perdeu duas fístulas nos braços. A arteriovenosa é fina e não aguentou nenhuma das vezes. A saída foi usar essa técnica que também ajuda outros pacientes que conheci.
Antes mesmo de começar a fazer hemodiálise Lucélia fez o transplante de rim com o orgão doado pela irmã gêmea.
Mas por que só ela teve insuficiência renal e a irmā não? Essa é a pergunta que todos fazem quando ficam sabendo do caso.
Segundo a paciente de 49 anos, nem os médicos sabem ao certo o que aconteceu. Talvez uma nefrite mal curada na infância, mas os próprios pais não se lembram dessa doença.
O mais incrível nessa história foi que, recentemente, apareceu um novo rim , só que não tinha equipe médica para fazer o transplante e ela acabou perdendo essa oportunidade no maior hospital de Ribeirão Preto.
O mais difícil ela conseguiu, que era um rim compatível. Agora imagina a decepção ao saber que perdeu essa chance depois de 5 anos dialisando !
Na verdade ela perdeu duas vezes a chance de voltar a ter uma vida normal como a irmã. Teve o primeiro rim rejeitado e depois passou pelo lado obscuro da luta por um transplante de orgão. Como se fosse fácil aparecer outro rim.
Dormi com a nítida sensaçāo de que serviços especializados e complexos como esses deveriam ser mais sérios.
A saúde no Brasil!