‘A minha fé vai me dar um rim’

Na ultima sessão precisei medir a pressão arterial no tornozelo. Os dois braços estavam ocupados – o esquerdo pela hemodiálise e o direito com monitoramento da pressão arterial. Fiquei com o aparelho durante 48h, ou seja, dois dias, um com hemodiálise e outro sem a terapia renal, para o cardiologista avaliar e, se for o caso, mexer nos remédios que tomo. Minha pressao tem oscilado muito entre a alta e a baixa.

Ainda bem que depois do primeiro dia pude tirar o aparelho em casa para tomar banho.

O pior é a coceira que dá no braço e aquele aperto a cada 15 minutos. Espero que tenha dado certo para não ter que repetir.

Agora imagine ter que fazer hemodiálise algemado na poltrona.

Esse foi o caso de Aparecido, que durante anos fez hemodiálise assim. Vinha direto da cadeia acompanhado por policiais. Estava preso por homicidio e estupro. Ficava preso na poltrona com um PM ao lado e outros dois nas portarias da clinica.

Na prisão começou a sofrer as consequências de não ter levado a sério o tratamento para pressão alta. Quando descobriu a doença achava que “era normal” e diz que nunca foi informado pelo médico sobre as consequências da pressão alta. “Uma falha dos dois lados”.

Desde que soube que era hipertenso, começou a usar remédio, mas, às vezes, tomava com cachaça, duas doses ou mais. O álcool cortava o efeito do remédio e alterava mais ainda a pressão.

“Eu não me respeitei”, reconhece hoje o ex-presidiário, 59 anos, que perdeu os 2 rins de uma só vez quando cumpria pena em regime fechado. Agora vive sozinho em uma pensão e convive com a solidão de quem nunca conseguiu construir uma família.

Na juventude Aparecido trabalhou carregando batatas. Ele diz que os sacos de 100 quilos na cabeça fizeram o pescoço dele não crescer. A única coisa que acabou crescendo foi a fé em Deus. O ex-ateu que chegou a cometer crime hediondo diz: “a minha fé vai me dar um rim”.

Aparecido faz questão de dizer que em 4 anos de hemodiálise, nunca passou mal e isso já é o resultado da fé e do renascimento depois que virou evangélico.