‘Vai com Deus’, dona Esmeralda

Quando não estamos bem de saúde o que mais ouvimos é a frase “tudo vai dar certo”.

Em que será que as pessoas de baseiam para dizer tal frase tão profética?

No fundo sei que é uma forma de dar força, para que tenhamos esperança de que o momento difícil vai passar.

Mas e se não passar? E se piorar? Vão continuar com esse otimismo de que tudo vai dar certo? A vida é frágil e efêmera. Às vezes uma imagem diz mais do que mil palavras. Uma palavra de fé também pode ser tocante.

Uma mulher que nem me conhece me mandou a oraçao de santa Filomena, que dizem ser poderosa. Na verdade é um kit que inclui um tercinho, um óleo e um cordão para amarrar na cintura (foto)

Eu estou fazendo as orações e até uma ladainha para clamar pela ajuda da menina que virou santa depois de ser decaptada. E o mais interessante é que minha avó paterna, que eu não conheci, se chamava Filomena. Quem sabe a santa no meu caminho foi por intercessão da minha avó.

É o contato com o divino que nos coloca em conexão com o lado espiritual da vida. E apesar da luta que estou para levar uma vida normal, minha fé às vezes é abalada.

“Vai com Deus”, eu disse para dona Esmeralda na saída de mais uma sessão de terapia renal. Ela estava toda encolhida na cadeira de rodas, quase cadavérica – magrinha e sem dentes – e respondeu que só com Ele mesmo para fortalecer o momento que está passando.

Vi quando ela chegou e fiquei indignada com a seguinte cena: ela chegava de táxi à clínica. O motorista abriu a porta de trás onde ela estava e o segurança veio com a cadeira de rodas. A coitada da mulher tentava sair do carro sozinha, com a maior dificuldade e era apenas observada pelos dois marmanjões, que não se mexiam para ajudá-la.

Eu não podia fazer nada por causa da fístula e não tive a reação de chamar a atenção dos dois naquele momento. Depois de muito custo, ela conseguiu se jogar na cadeira para ser transportada até a poltrona da hemodiálise.

Já contei a história da Esmeralda, uma setentona que vive sozinha.

Naquele dia ela veio de táxi e com um lenço cobrindo a cabeça por causa de uma dermatite que começou no couro cabeludo e está atingindo outras partes do corpo.

A situação é crítica e inspira cuidados. Fiquei sabendo que a filha dela mora longe e quer colocá-la no asilo. O caso requer família, que nem sempre está perto para tomar as decisões necessárias.

Depois da sessão de hemodiálise encontro a Esmeralda na cadeira de rodas da recepção esperando a van para levá-la de volta. Naquele dia ela só teve dinheiro para a ida de táxi. A volta ia ser bem mais longa levando outros pacientes.