A importância da doação de órgãos

Esse coração verde que bate no meu peito é o coração de uma doadora de orgãos. Já nem sei se por causa do meu problema renal poderei doar algum orgão quando eu for embora dessa vida – talvez as córneas.

De qualquer forma, hoje eu vesti a camisa para fazer hemodiálise e espero, através dos meus escritos, conscientizar cada vez mais as pessoas sobre a importância da doação de orgãos.

Hoje também foi um dia especial. A Faculdade de Enfermagem da USP promoveu no HC um encontro com candidatos a transplante e transplantados, além de estudantes e familiares, para lembrar o Dia do Doador de Orgãos.

Nesta data se comemora também o dia de Cosme e Damião, irmãos gêmeos que eram médicos e foram decapitados por causa das curas que realizavam nos anos 300 DC. Eles viraram santos.

O encontro durou 2 horas e foi marcado por muita emoção. Começou com o depoimento da filha e da mulher de um doador, que em vida sempre demonstrou vontade de doar os orgãos. Ele teve morte encefálica e a familia cumpriu o desejo dele e fez a doação dos dois rins e do fígado, salvando a vida de três pessoas.

Uma situação muito difícil para ser relembrada pelos parentes, porém, trazer à tona que a doação existe e é real, dá esperança a nós que estamos na fila de espera por um orgão.

Eu e um candidato a transplante de fígado relatamos nossas experiências, como é nossa vida e a expectativa pelo transplante. Outros dois transplantados, de rim e fígado, também deram depoimentos, agradecendo os doadores.

Na platéia, pacientes com máscaras que acabaram de fazer transplante. Entre eles, o Alcidio, de 30 anos, trabalhador rural, que estava no terceiro transplante. Isso mesmo, já fez transplante de rim três vezes – o primeiro aos 9 anos. Não deu certo e, logo em seguida, fez outra cirurgia. Desta vez a mãe foi a doadora.

Alcidio nunca soube porque perdeu os rins tão cedo. Viveu uma “vida normal” durante 9 anos após o segundo transplante, mas não se cuidou e o novo rim não aguentou. Foi para a hemodiálise por mais de 10 anos. Mas o que aconteceu, o que ele fez para perder o rim? – você deve estar se perguntando.

Ele tomou os remédios necessários mas não cuidou da alimentação. Me contou com naturalidade que comia muita carne vermelha e também gostava de bebida alcoólica. Tinha facilidade para adquirir as melhores carnes e as mais gordurosas por morar na roça. Aí eu pergunto assustada:

  • Mas agora você vai se cuidar? Por baixo da máscara no rosto ele responde que sim. Talvez agora, mais maduro, tenha compaixão de si próprio para levar a vida com os limites inerentes ao problema e, assim, realizar sonhos, como o de constituir uma família.