Rins Policísticos

Augusto vem de uma família de rins policísticos. A mãe e os tios desenvolveram esse problema. Dos 5 irmãos de Augusto ele e outros 2 herdaram os cistos que na vida adulta fazem os rins pararem de funcionar. Uma irmã morreu nova, com 44 anos, por desconhecer o diagnóstico. O irmão chegou a fazer transplante mas durou apenas um ano.

Um dos primos de Augusto, filho da irmã da mãe, não quis fazer hemodiálise de forma nenhuma. Era uma pessoa bem esclarecida mas não suportava a ideia de ficar preso à máquina. Ficou internado 3 dias no hospital para se tratar mas recusou fazer a cirurgia para colocar o catéter e acabou morrendo.

Os filhos gêmeos de um primo, que ainda são crianças, já tiveram a doença policística detectada e vão se tratar nos Estados Unidos. Por sorte o problema foi descoberto cedo, antes do desenvolvimento total dos orgãos e, por isso, a esperança de tratamento.

Já o irmão de Augusto fez terapia renal durante 5 anos, porém, depois do transplante, manteve os hábitos de alimentacão irrestrita e bebida alcoólica e, também, não resistiu. Tinha 66 anos quando sofreu complicações ligadas ao coração e morreu.

Fico pensando comigo, quantas pessoas já partiram desde que estou dialisando na clinica há 10 meses. No meu box só o senhorzinho de 90 anos se foi logo nas primeiras semanas da minha terapia. Mas no boxe da frente, 4 pacientes morreram e me deixaram comovida.

Entre eles, 2 fizeram parte das minhas histórias: a Cidinha que trazia rosquinhas de leite ninho e tinha uma marido que a esperava o tempo todo da diálise na clínica. E a dona Esmeralda, que estava com uma infecção no couro cabeludo e vivia sozinha, de forma um tanto precária.

São pessoas mais velhas ou com problemas mais graves, como um paciente que era técnico de enfermagem, tinha diabetes e acabou ficando cego. Quando ele chegava à clínica era ajudado por outros pacientes até a poltrona da máquina. Também não suportou o peso do problema e já estava com a saúde delibitada.

São casos que nos trazem à tona a realidade de quão efêmera é a vida e que as pessoas podem não estar mais ao lado num piscar de olhos.