Adeus Cidinha

A morte da Cidinha abalou os pacientes ontem no início da sessão de hemodiálise. Ela teve uma parada cardíaca na manhã desta segunda-feira. Foi a segunda perda no box ao lado do meu, nos últimos 2 meses.

Era uma sessentona bonita, loira, de olhos claros, de quem já contei a história. Cuidava como um tesouro da única fístula, que durou 8 anos. Nesse período, chegou a fazer transplante mas teve infecção urinária, precisou tomar antiinflamatórios e acabou de volta à máquina.

O marido a esperava o tempo todo na recepção da clínica, demonstrando muito zelo e carinho. De vez em quando, Cidinha trazia rosquinha de leite Ninho, distribuía para os pacientes próximos e pedia para a enfermeira me entregar na hora do café.

Quando a outra mulher do box dela também morreu de infarto, Cidinha me pediu para ocupar o lugar que estava vagando para podermos papear mais. Mas eu já me sentia adaptada ao meu cantinho e nele permaneci.

Da minha poltrona eu sempre a avistava do outro lado e muitas vezes, no silêncio, era a voz dela que sobressaia no ambiente.

“Ela falava demais”, disse minha vizinha de hemo.

Ah pra quê? Um outro paciente do box da Cidinha se levantou e esbravejou que estavam falando mal da amiga que se foi. Era o Evandro, ex-enfermeiro com um ouvido bem apurado, porém com deficiência visual total por causa da diabetes. Chorando pela notícia que tinha acabado de receber, ele chegou a levantar da cadeira com os fios ligados. Os enfermeiros-chefes correram para acalmá-lo.

Em seguida, o silêncio de todos, contidos na dor da perda, foi quebrado apenas pelo som dos aparelhos de tv em volume baixo.

Perdas que nos rondam a cada dia, especialmente em locais onde a busca da saúde é a mola propulsora da vida.

Fim da história: ontem foi aniversário do Evandro. Devido à morte da Cidinha, ele suspendeu os salgadinhos que encomendou para comemorar no box dele.

Almofada ganha de presente da querida Eliana Puga


Obs: estreiando a nova almofada, mimo da Eliana Eliana Puga