Algumas pessoas me perguntam porque não estou publicando mais histórias. Na verdade nem eu mesma sei. Só sei que dei um tempo porque não estava me sentindo à vontade para usar as horas presa na máquina para escrever sobre os outros pacientes. Depois dos primeiros meses de hemodiálise e de ter passado o impacto que a situação causou em minha vida, fiquei um pouco amarga com essa obrigação – tanto a de escrever quanto a de ter que dialisar.
Mas continuei a escrever sem publicar e fiquei muito brava quando perdi um texto por ter dado um comando errado no celular.
Minha luta agora é dosar o que eu como. Entrei numa complexa dieta que inclui cuidados com a proteína, ferro, fósforo, cálcio e potássio. Todos os alimentos possuem o que o doente renal não pode comer. É preciso equilibrar muito e isso dá trabalho. Os legumes devem ser cozidos e a água eliminada sem dó, sem reaproveitamento.
O liquído que bebemos também precisa de atenção especial. Temos que ingerir apenas o equivalente ao que eliminamos. Se tomo um litro de líquido (entre água, leite, suco, caldo), é isso que preciso eliminar pela urina durante o período de 24hs. E quando a sede aumenta, melhor chupar uma pedra de gelo. Normalmente, na segunda-feira os pacientes estão mais pesados por causa dos ganhos do fim de semana – comida mais pesada ou um pouco mais salgada, uma cervejinha ou refrigerante.
Para quem não urina, é mais complicado esse controle. Como ainda tenho um pouco de função renal, minha situação não é tão radical.
Adoro banana, mas agora é só a do tipo maçã e essa variedade nem sempre é boa. Muitas vezes é empedrada. Laranja, só a lima e mamão nem pensar.
Assim sigo administrando o que coloco na boca e me conscientizando de que esses limites estão apenas começando.
Cada dia é um aprendizado. E a cada dia basta o seu dia.