Hoje eu ia começar a contar a história da carambola e emendar com a da paciente cujo pai teve que ser operado por causa de um isqueiro enfiado no pé.
Isso mesmo, olha só que loucura e o que ė capaz de fazer o diabetes.
Mas antes quero confessar uma fragilidade: hoje eu chorei no início da hemodiálise.
Precisei levar a terceira agulhada depois que uma delas não deu certo. Culpa da fístula ou de quem aplicou?
Não foi a primeira vez que isso aconteceu e não aguentei segurar as lágrimas, que desabaram sobre o meu rosto.
Será que eu não estava num bom momento ou tenho o direito de chorar?
Deixando a emoção de lado e partindo para a realidade… vou comentar sobre uma fruta suculenta, linda para enfeitar saladas, às vezes azeda e outras docinha, a carambola.
No sítio da minha amiga Renata Guimarães essa fruta está perdendo no chão (foto). Me deu uma vontade de escolher uma bem madurinha e comer!
Mas se existe um alimento proibidíssimo para nós é a tal da carambola. Uma pesquisa realizada na USP, por um dos médicos aqui da clínica, constatou que existe uma substância tóxica na carambola, que é um veneno para os rins. É a chamada caramboxina que pode provocar crise de soluço, epilepsia, convulsões e até levar à morte.
O nefrologista Miguel Moysés perdeu um paciente que fazia hemodiálise, na década de 1990. Ele comeu duas frutas dessas e morreu, depois de sofrer várias convulsões e ficar em coma.
Na mesma semana surgiu outro caso similar com um paciente em coma, que também havia ingerido grande quantidade de suco de carambola.
Aí começaram os estudos e a constatação de que, até em pessoas saudáveis, o excesso de carambola pode trazer sérios problemas aos rins.
Fica o alerta!
Já alonguei muito a conversa hoje, mas vou tentar resumir a história da Camila, considerada uma das mais sortudas nos dias de bingo.
Camila, 34 anos, era fiscal de pedágio até o dia em que amanheceu com o corpo inchado da cintura para baixo. Os exames mostraram que um dos rins estava atrofiado e o outro quase não funcionava mais. O médico indicou hemodiálise imediata e ela passou pelo duro processo de começar o procedimento pela fístula no pescoço.
A causa mais provável que a levou à insuficiência renal é o diabetes. Teve a doença na gravidez aos 17 anos e, depois do parto, a insulina voltou ao normal e ela não fez mais exames. Aos 30 anos teve a surpresa de índices altos, tanto do diabetes quanto da pressão.
Uma semana depois de iniciar a terapia renal, o pai dela começou a passar mal e teve que também enfrentar a hemodiálise.
Ele já tinha, anteriormente, amputado um dos pés por causa do diabetes. Foi um tempo depois de enfiar o isqueiro na sola do pé.
O isqueiro sumiu e caiu no sapato dele. Sem sentir o objeto, ele calçou o sapato, caminhou e, na volta, a mãe da Camila viu o dito cujo quando ele esticou as pernas no banquinho para ver televisão.
Teve que fazer cirurgia para a retirada do isqueiro.
Camila está afastada do trabalho nas estradas há 5 anos. Agora o caminho dela é cuidar dos rins e aguardar o transplante.
“Coloquei nas māos de Deus. Ele tarda mas nāo falha. Meu rim virá no momento certo”, diz.
A esperança dela também é que o rim volte a funcionar, se referindo a alguns pacientes que conheceu na clínica e que conseguiram esse milagre.
Amém!