Aos poucos vou me acostumando com o mundo da hemodiálise e seus personagens. Isso inclui enfermeiras(os), que, além de “pegar” nossas veias/artérias, nos “devolvem” ao final do procedimento com um curativo. Precisa apertar a gase para o sangue não vazar.
Imaginem a velocidade com que esse “combustível” corre pelo nosso corpo.
O curativo incomoda um pouco na hora de dormir. No dia seguinte, ele é retirado e muitas vezes fica um hematoma. É preciso fazer compressa quente e passar Hirudoid para melhorar a aparência.
São cuidados importantes, que garantem também a sobrevida da fístula [canal criado cirurgicamente com finalidades terapêuticas], nossa maior aliada na hemodiálise.
Cidinha, 59 anos, ex-telefonista da antiga Ceterp, cuida da fístula como se fosse um tesouro. A dela nunca deu problema ou parou de funcionar desde que começou a dialisar.
Ela nāo faz o mínimo esforço com o braço, como pegar peso, e acha que isso tem ajudado.
Cidinha chega acompanhada pelo marido, que muitas vezes fica sentado na recepção esperando a sessão acabar.
O braço direito dela guarda as marcas das agulhadas que recebeu ao longo dos anos.
Chegou a fazer transplante de rim, mas 5 anos depois precisou voltar para a hemo.
Ela disse que estava indo tudo muito bem, tinha uma vida normal, viajava muito, até que apareceu uma mega infecção urinária recorrente e o rim transplantado não aguentou.
Precisou tomar muito antiinflamatório, um veneno para os rins, para conter a infecção, que cismava em não ir embora.
Não tomar esse tipo de remédio foi um dos motivos para meus rins funcionarem por mais tempo. Como sabia dos cistos renais, o médico me prevenia o tempo todo contra os inimigos do órgão.
No caso da Cidinha, nāo tinha outra saída porque, se não tratasse, corria o risco de morrer.
O problema é que o antiinflamatório é filtrado diretamente nos rins. Então é preciso evitar qualquer infecção, com ou sem transplante, para não precisar tomar esse medicamento.
Cidinha ainda está amadurecendo a ideia de fazer outro transplante.
Entre vindas e idas, sāo 8 anos de hemodiálise e uma pausa de 5, depois de receber o rim de um motoqueiro morto em acidente de trânsito, em São Paulo.
Ela agradece todos os dias a fístula que nunca deu problema. Por ora, isso basta.