Elza, 71 anos, já avisou e deixou por escrito: Não quer nenhum doador de rim da família e muito menos do filho único, que já manifestou vontade de dar um dos rins.
Por isso mesmo entrou na fila do transplante de cadáver e está bem animada, apesar da idade.
O maior problema da Elza foi aceitar a doença, que se manifestou há 3 anos. “Eu sempre tive saúde e até hoje não me conformo que meus rins não funcionam mais”.
De tão incrédula com a situação, chegou a ir a outra cidade e refazer todos os exames, para, no fim das contas, ter o mesmo diagnóstico: doença renal crônica.
Também não sabe porque os rins pifaram. A única pista é a pressão alta, que descobriu depois de passar muito mal. Logo depois, foi para a máquina.
Apesar de católica, procurou outras religiões para entender o que estava acontecendo e uma delas revelou que ela estava curada.
Abandonou a hemodiálise, mas logo depois teve que voltar, porque as taxas da função renal estavam muito altas.
Como a maioria dos pacientes da clínica, Elza não tem convênio de saúde e é atendida pelo SUS. Não tem um médico fixo e muitas vezes é cuidada por residentes. Isso é uma barreira para entender melhor a doença, que só agora, 3 anos depois, ela procura levar sem sofrer muito.
Para animá-la eu disse: Ainda bem que existe a máquina”.
E ela respondeu: “Só que eu não me acostumo”.
Também pudera! Já perdeu 5 fístulas e, enquanto se prepara para a próxima, faz hemodiálise pelo catéter no pescoço.
Na verdade, o que ela mais queria era voltar a ter a vida de antes, com liberdade para circular pelo condomínio de prédios onde mora e onde sempre trabalhou.
Agora não pode fazer muito esforço e vive amparada pelo filho que mora com ela.