Hoje estou fazendo hemodiálise excepcionalmente no sábado, porque ontem fiz uma pequena cirurgia. Foi preciso corrigir um desvio na fístula. Foram dois pontinhos ao lado da artéria, onde uma veia roubava o fluxo sanguíneo.
Para quem está acompanhando meu caso, gostaria de dizer que sou uma pessoa “pouco comum”. Isso mesmo. Não estou encarando essa situação como sofrimento, mas sim como uma aventura e um aprendizado.
Algumas pessoas comentam nos meus posts que estāo penalizadas com as intercorrências que acontecem no meio do caminho que estou percorrendo nesse momento. Mas a verdade é que encaro esses acontecimentos como um desafio, o que torna a vida muito mais viva e com propósito.
Se não fosse a veia “ladrona”, não teria conhecido o novo hospital da Unimed, que é um exemplo de hotelaria de primeiro mundo.
Não teria tomado o sedativo que nos leva ao sono dos anjos.
Não teria visto o pôr do sol e o nascer do dia de um ângulo diferente, com a cidade ao fundo.
Tudo depende do olhar e de aproveitarmos os momentos da melhor forma possível.
Precisei fazer uma arteriografia pela virilha e não pude mexer a perna por algumas horas depois da cirurgia. Por isso precisei dormir no hospital.
Ao entrar no centro cirúrgico, lembrei das vezes que levei minha mãe até a entrada da sala para fazer cirurgia, primeiro do ouvido e depois da coluna. Ela dizia que segurava na mão de Deus e ia. Eu aprendi com ela e tranquilamente me entreguei ao meu destino.
Tudo passou muito rápido.
Agora estou aqui na sessão da terapia renal escrevendo e observando uma mulher na minha frente tomando Coca-Cola e comendo pão de queijo. Nem esperou o horário do lanchinho.
Ela faz hemodiálise pelo peito. A técnica é chamada permcath, um catéter subcutâneo implantado próximo à jugular, que ajuda na filtragem do sangue. A diálise não é 100%, mas ajuda até a pessoa desenvolver uma nova fístula.
Ela tem apenas 28 anos e pesa 133 quilos. Perdeu os rins porque teve uma rara doença autoimune chamada púrpura.
Pelo que presenciei hoje, ela não faz o tratamento de forma correta e fiquei sabendo que não segue o protocolo para entrar na fila do transplante. Já teve fístula e, por nāo se cuidar, acabou perdendo.
Será que por ser jovem pode ser inconsequente?
Ela também comeu um filão com manteiga na hora do café.
“Deus ajuda quem ajuda”, comenta o enfermeiro que luta para colocar a jovem na linha.