Espírito de Natal

Desde pequena sempre fui muito religiosa por influência dos meus pais. Não entendia muito bem as leituras bíblicas, sempre as achei difíceis, nomes muito complicados. Mas as parábolas faziam muito sentido, tinham a moral da história. Minha mãe pertencia a um grupo de senhoras católicas que nessa época do ano levava comida e presentes às famílias mais carentes. E eu acompanhava entrando naqueles casebres de chão de terra e achava que assim cumpria minha penitência natalina.
Pensava como minha mãe é generosa vindo trazer bens materias e palavras amorosas para quem mais precisava. Era como uma catarse que aos poucos foi ganhando outros sentidos com a minha saída de casa para estudar fora.
O tempo passou, não pratiquei mais atos assim com tamanha dedicação, mas a essência do aprendizado, do amor ao próximo continua enraizada no meu ser. Gosto de servir, de receber, de presentear e, sobretudo, ter uma palavra na hora certa.
Nesses dez dias de reclusão no hospital, pensei muito nisso, como podemos ter uma alma boa mesmo em um círculo pequeno que nos cercam.
Consegui irradiar luz para minha mãe internada em uma clínica de idosos com mal de Alzheimer. E o mais incrível, vi o semblante de meu pai em volta de minha cama, sorrindo me emanando paz. Ele morreu há 33 anos depois de um transplante de rim e deve estar me cobrindo de bençãos para que os novos tempos do transplante renal me protejam.

 

Obs: comida de hospital não é das melhores, mas eu tenho que registrar que essa sopa de fubá é “the must”. Continuo pedindo esse “manjar dos deuses” no jantar.