Estado de graça

Ontem fez um mês que recebi um novo rim e, desde então, estou em estado de gratidão amorosa permanente.

Alguns do meus exames de sangue feitos uma ou até 2 vezes por semana sobem e descem, o que é esperado nos primeiros meses. Existem os temperos, os destemperos e os condimentos, até chegar ao tão esperado ponto ideal.

Mas o que são esses reversos perto da volta da função renal? Afinal me livrei do doloroso processo da hemodiálise e tenho esperança de logo voltar a levar uma vida normal.

Espero com paciência essa passagem pela fase de adaptação, torcendo e rezando para ser rápida. É um processo complexo, onde cada paciente vive a sua história.

O sucesso inicial de minha cirurgia me fez lembrar de Silvia que virou uma companheira de caminhada na ala dos transplantados quando eu estava internada.

Faziam dois meses e meio que essa mulher de 46 anos fez o transplante renal, só que foi acometida pelo citomegalovirurs – um virus que todos nós temos adormecido e que se manifesta em situações de baixa imunidade – e precisou ficar internada para se tratar.

Durante 17 anos Silvia fez terapia renal. Foi logo depois que teve a única filha, hoje com 18 anos. Dividiu todo esse tempo entre cuidar da criança e de si própria.

Conversas no corredor do hospital onde outros 3 pacientes, entre eles um de 19 anos e outro de 37, se recuperavam do transplante renal, num tempo de internação muito mais longo que o meu, que teve a duração de 12 dias.

Como pude constatar pessoalmente, problema renal não tem dia e nem idade para vir à tona. E receber uma doação como essa, também não. Me sinto “a escolhida” e por isso, continuo em estado de graça e em recolhimento.

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