Marília fugiu da biópsia aos 20 anos…

Hoje derrubaram hipoclorito de sódio no chão, produto usado para limpar as máquinas de hemodiálise. O jeito foi distribuir máscaras para os pacientes porque o cheiro é muito forte.

Essa na foto é Marilia, 34 anos, a mais nova dos pacientes em meu box. Ela tem comércio de salgadinho e divide o tempo entre o trabalho e a hemodiálise há exatamente um ano.

Nesse momento ela faz exames para o transplante. O irmão vai ser o doador.

Marília está animada e com expectativa de que a cirurgia saia até julho.

O caso dela foi assim:
Com 20 anos descobriu que tinha pressão alta e fez exames de sangue. Deu proteína na urina.

Precisava fazer biópsia para o diagnóstico, mas, com medo, fugiu do médico. Era jovem, tinha sonhos, não queria falar de doença.

Casou, teve 2 filhos e começou a cuidar da pressão alta, ou seja, tomava remédio para combater o sintoma e nunca tratou a causa.

Com 33 anos teve uma crise de falta de ar e foi diagnosticada com asma.

O dia D foi quando não conseguia mais andar porque as pernas estavam inchadas. Foi medir a pressão: 26 x 14.

Foi hospitalizada e descobriram um tipo de nefrite em estado avançado. Foram 10 dias na UTI e o início da diálise, porque os rins pararam de funcionar totalmente.

Ao voltar no tempo da juventude, ela diz que achava que não ficaria doente e se arrepende de não ter feito o exame. “O que era uma biópsia?”.

Os médicos dizem que se tivesse investigado mais a fundo naquela época, o problema poderia ter sido prologado por alguns anos.

Não que iria prevenir a doença, porque o rim é a saga da família. Outras pessoas já fizeram transplante, como o pai e o padrinho dela, que também tiveram os rins doados por irmãos.

Talvez, com mais jeitinho do médico falar com ela, aos 20 anos, destacando também a gravidade da doença, tudo poderia ter sido diferente.

Palavras da própria Marília.