O que mais Domingos deseja hoje é sair da máquina

O meu dilema nesse momento é escolher a fila que eu quero entrar para fazer o transplante renal.

A do interior, coordenada por Ribeirão Preto, ou capital, que me dá oportunidade de fazer em centros mais especializados, como o Hospital do Rim, em São Paulo.

Estou com quase todos os exames prontos, pois, como diz a médica que me acompanha, é preciso “estar com a casa em ordem”.

Desde antes da hemodiálise, quando minhas taxas da função renal começaram a subir, eu iniciei os preparativos para um possível transplante de doador vivo. Tomei até vacinas, inclusive as da infância, e estou praticamente pronta para receber o novo orgão.

Assim que entrar na fila e receber o meu RGTC (registro na central de transplante), a sorte será lançada. Isso mesmo, é uma questão de sorte para encontrar um rim de um doador que teve morte cerebral.

Nessa fila não é quem chega primeiro que tem a preferência. Depende da compatibilidade entre doador e receptor. É um processo bem complicado.

O Domingos, que começou a dialisar no mesmo box onde estou, há 3 anos espera por um rim. Pelo que me contou, ele teve o mesmo problema que eu, que são cistos renais hereditários.
O pai dele também teve e morreu muito jovem, quando ele ainda era criança.

Domingos só soube da doença porque, aos 48 anos, a pressão começou a ficar muito alta e chegou um dia em que ele perdeu a cor. Estava com anemia.

Precisou começar a hemo com catéter no pescoço e disse que era muito ruim.

Mas está firme nessa rotina que encurta o trabalho dele no ateliê de costura. Já fez muitos ternos, mas hoje se limita a consertos de paletós e casacos de lojas de um shopping.

Tem sangue do tipo O + e é mais difícil encontrar um doador compatível.

Mas não perdeu a esperança, pois o que mais deseja hoje é sair da máquina.