Salustino não tem esperança

Essa rotina da hemodiálise não é fácil para ninguém. Imagine para as pessoas mais velhas, que além da idade lutam contra outras doenças, como o diabetes.

É o caso do Salustino, de 78 anos, que encontrei hoje com uma carinha bem desanimada. Ele já tinha feito a sessão e esperava a van para voltar para casa.

“Cheguei aqui há 5 anos. O médico disse que eu ia fazer apenas umas sessões para limpar o sangue e daqui não pude sair mais”.

Salustino não sabe o que tem nos rins e diz que urina normalmente. Quando começou a dialisar, tinha ficado “fora do ar” e também não sabe explicar porque ficou desacordado no hospital.

A verdade é que o aposentado, que era marceneiro, está cansado de fazer a terapia renal e se sente “muito judiado”. Sofre ainda com as punções e hoje foi embora descrente de tudo. “Não tenho esperança nenhuma, nem médico tenho direito”.

Essa desesperança do senhorzinho me fez refletir sobre a necessidade de mais humanização nesse tipo de tratamento. Como gostaria de estar fazendo hemodiálise num ambiente mais acolhedor, com uma vista bonita ou pelo menos mais agradável, que possibilitasse a meditação.

Ficamos um olhando para o outro, tomando um lanchinho entre linhas de sangue do vizinho e, muitas vezes, com o ruído das conversas que cortam os boxes.

Gostaria de dormir, mas não consigo durante a terapia renal.

Já tentei ouvir Led Zepellin e ver “Os Vinkings”.

Um desafio que não consegui superar nessa jornada louca, onde só os fortes sobrevivem.