No começo da sessão da hemodiálise entram primeiro os que precisam se locomover em cadeira de rodas e os mais velhos. Depois os outros formam fila e vão sendo chamados para pesar e lavar o braço antes de se dirigirem às poltronas específicas com o nome de cada um.
A fila da foto mostra que a maioria dos pacientes são homens. Eles tem várias idades, profissões – a maioria aposentado – e diferentes classes sociais.
Lá na frente da fila está o João Vítor, de apenas 18 anos, que dialisa há cinco. Já fez até transplante de rim.
A aparência jovial surpreende. Como um menino bonito como ele, de bermudão, cabelo na moda, nuca raspada e carinha de anjo foi perder os rins?
Ao invés de estar na escola está na diálise. Não pode jogar bola e nem trabalhar para ajudar em casa. Vive com a mãe, que é faxineira, e o irmão de 15 anos.
Ele contou que o problema no rim começou depois de um baita tombo. Era lavador de carros em uma cidadezinha perto de Belém do Pará. Numa das lavagens escorregou de cima do carro, bateu forte as costas no chão e chegou a ficar desacordado. Só depois de uma semana João Vitor começou a sentir dor e foi internado. Pegou infecção em um dos rins e, com o atendimento precário no Norte do país, a infeccão passou para o outro rim. Acabou perdendo os dois orgãos.
A família mudou-se para Ribeirão Preto para facilitar o tratamento.
João Vitor entrou na fila, conseguiu fazer o transplante e, durante um ano, teve uma vida normal. Tão normal que esquecia de tomar os remédios contra a rejeição e o novo rim não aguentou.
Às vezes é preciso interná-lo às pressas e isso fez com que desistisse de estudar. Assim como a maioria dos pacientes, o que ele mais quer é um outro rim para se livrar da máquina e levar a vida como os amigos. Quem sabe também vai estar mais maduro para encarar o transplante com todos os cuidados que ele implica.